Bitcoin, uma moeda sem fronteiras

Criada em 2008, a moeda digital permite transações bancárias sem o controle do governo e o valor é atribuído pela oferta e demanda

O Bitcoin é uma moeda virtual baseada na web que não tem autoridade central. Ele funciona por meio de uma rede de pagamentos peer-to-peer (ponto a ponto). O valor unitário da moeda (BTC) não deriva do ouro ou de algum decreto governamental, mas sim do valor que as pessoas lhe atribuem. “O Bitcoin foi uma invenção criada em 2008 para permitir a transação de valor sem intermediário central e de forma P2P, cada vez que uma pessoa manda Bitcoin de A para B, fica registrado num livro de registros, denominado Blockchain”, afirma Thiago Cesar, CEO da Bit.One.

Mas o que é o Blockchain? O termo pode ser definido como um livro de registros público de transações, descentralizado e alimentado de forma digital pelos participantes da rede de forma distribuída, ou seja, um grande banco de dados público que contém todas as transações realizadas.

Comparado ao sistema financeiro tradicional, quando uma transação é efetuada, por exemplo, entre um banco e outro, o Banco Central tem um livro de registro para essa transação. No Bitcoin, o modelo é descentralizado. Os participantes da rede é que são responsáveis por manter esse registro público e os membros participam e tem uma cópia das transações. “Essa é a beleza do Blockchain, é algo público, transparente e auditável por qualquer pessoa”, conta Thiago.

Para ele, a principal vantagem do Bitcoin é a internacionalização total do dinheiro. “O fato de você poder transferir valores sem barreiras geográficas e sem depender de um registro com alguma entidade centralizada faz com que o Bitcoin seja uma das redes mais resilientes do mundo”.

Mary Oliveira é secretária na única loja física que vende Bitcoin em Brasília, a Bitcointoyou. Ela conta que recebe seu salário na criptomoeda. “No dia, é feita a cotação. Eu tenho a minha carteira virtual e o dinheiro é depositado nela. Eu posso escolher entre deixar acumular ou retirar em dinheiro”.

Para ela, as pessoas não aderem ao Bitcoin por não ter conhecimento e a informação sobre a moeda não ser divulgada. A criptomoeda pode ser comprada em frações mas é um investimento de risco que oscila a todo minuto, o dia todo. “Quando a loja veio para Brasília, o Bitcoin valia 700 reais, em março de 2017, chegou a passar de 4000 reais”.

A maior vantagem do Bitcoin, que é a descentralização e ausência de controle por uma entidade única, é também a maior fraqueza em termos de adoção no mundo. “Muita gente não participa por não acreditar em um sistema distribuído, que é uma coisa nova. O ser humano tende a preferir uma chancela de governo ou de uma grande empresa”, diz Thiago.

Em termos de rede, a moeda é algo que não pode ser regulada ou derrubada por governos ou por empresas. O Bitcoin é uma rede de livre ingresso, em que qualquer pessoa pode receber e enviar Bitcoin, similar ao envio de músicas entre pessoas na década passada. “Você não consegue quebrar o Bitcoin ou proibi-lo porque ele é algo distribuído e resiliente. É um sistema de resiliência muito usado por países em crise onde pessoas querem proteger seu patrimônio, como Venezuela e Grécia”, afirma Thiago.

É importante mencionar que o Bitcoin não depende da indústria tradicional para sobreviver. Ele já tem um mercado próprio e existe uma procura que dá valor a ele pelo que ele é hoje, mas uma entrada para o sistema financeiro tradicional traria mais usuários e elevaria o valor do ativo. “Por mais que o Bitcoin não dependa do sistema financeiro, ele também não vai entrar nesse sistema tão cedo, pelo menos no Brasil. A adoção é muito difícil pois não há essa chancela central da parte de ninguém”, finaliza Thiago.

Para começar a investir em Bitcoin é muito simples, basta o usuário baixar um dos aplicativos disponíveis ou acessar o site das várias empresas que oferecem o serviço – no Brasil, as maiores são a BitcoinToYou, Foxbit e Mercado Bitcoin – e vincular uma conta bancária. A cotação é feita na hora, similar à bolsa de valores e as transações são feitas pelo Blockchain.

No fechamento desta matéria, a cotação da unidade de Bitcoin estava em R$ 3,733,58.

Por Raphael Argollo